Múltiplos papéis do líder de TI

Para conseguir liderar com sucesso o processo de mudança, uma pessoa precisa, de fato, atuar em diversas frentes e várias conjunturas no processo de transformação

O termo CIO significa muitas coisas em várias organizações. A ideia de criar a posição de Chief Information Officer tem pelo menos 30 anos. Desde então, os CIOs têm recebido a missão de cuidar dos serviços e bens de tecnologia das organizações modernas. No entanto, hoje, mais do que nunca, fica clara a mudança do foco, de simples “provedor de energia elétrica” para aquele ser, entre muitas tarefas, ainda é o responsável por manter as luzes acesas.

O CIO moderno é um evangelizador, um inovador, um gerador de receita, um especialista em consumidores e um gestor de relações executivas. Esses atributos nem sempre são natos em muitos executivos de TI, que cresceram nas fileiras de tecnologia das organizações.

Vamos nos focar nos talentos que precisam ser cultivados e incorporados ao seu portfólio se você espera ser um CIO bem-sucedido daqui para frente.

O papel do líder

Todo líder deve usar vários chapéus. Para conseguir liderar com sucesso o processo de mudança, uma pessoa precisa, de fato, atuar em diversos papéis e várias conjunturas no processo de transformação.

São eles:

1 – Executivo de negócios
Primeiro papel, e mais importante: um CIO é um executivo de negócios. Espera-se de qualquer um que tenha um “C” no seu cargo que atue como um executivo e que tenha visão abrangente de toda a organização ao tomar decisões. Conhecimento funcional e experiência são os pés da mesa, não os diferenciadores. É claro que o Chief Marketing Officer (CMO) é um especialista em marketing de produtos e serviços da empresa e entende como a companhia está no cenário competitivo no mercado em que atua.

Do CFO espera-se habilidade em gerir o fluxo de caixa e determinar os melhores investimentos para os bens da empresa, que garantam liquidez no curto prazo e crescimento no longo prazo.

Do CIO é esperado ser capaz de alavancar, com soluções de tecnologia e informação, a agenda estratégica da organização.

O real valor agregado é quando esses líderes de negócios conseguem arregaçar suas mangas e sincronizar seu conhecimento coletivo de negócios, bem como suas especialidades e experiência funcional para criar a estratégia e gerar valor para a empresa.

Se você quer um lugar nessa mesa, primeiro precisa saber o que fazer quando sentar lá!

2 – Pregador (ou evangelista)
Há uns dois anos, ouvi uma apresentação em uma grande conferência de tecnologia em que o palestrante afirmava que como líder era imperativo que você inspirasse as pessoas do seu time. Inspiração não é uma palavra que muitos executivos de TI usem comumente.

Quando alguém pensa em inspiração, tende a pensar em imagens de treinadores de futebol que levaram seus times a vitórias épicas. Ou, eventualmente, de grandes oradores carismáticos como Martin Luther King ou John F. Kennedy, que conseguiam mover multidões com sua visão e paixão.

Quando ouvi essa apresentação, admito que fiquei um pouco intimidado, no início. Considerava-me várias coisas, mas inspirador não era necessariamente um adjetivo que usaria para descrever a mim mesmo.

No entanto, se você olhar a explicação de “inspiração” no dicionário, vai encontrar várias definições. Eis a que encontrei no Webster: A ação ou o poder de mover o intelecto ou as emoções. Vamos pensar um pouco sobre essa definição e ver como ela se aplica a líderes verdadeiros.

A liderança de fato exige mover o intelecto e as emoções. Um líder precisa convencer, persuadir e influenciar pessoas a devotar sua energia e seu talento em busca de um objetivo que valha a pena.

Ele também precisa atingir a pessoa no nível emocional, tocando naquele ponto que a faz dar o melhor de si mesma. Líderes estão sempre trabalhando para influenciar as pessoas em torno de si e sugerir ações e ideias que eles precisam que sejam abraçadas e perseguidas. Quando inspiração é colocada nesses termos, ela se mostra bem menos intimidadora e muito mais prática de ser considerada.

Portanto, sugiro a você que o primeiro papel que um líder deve exercer é o de ser um pregador, um evangelizador.

Líderes precisam inspirar seus colaboradores-chave em sua esfera de influência a abraçar as novas ideias, novas visões e novas direções e devem, de alguma forma, conseguir que a mente e a alma dessas pessoas atinjam o entusiasmo, a energia e o compromisso necessários para gerar a mudança transformadora.

3 – Capitão do navio
O próximo papel que um líder deve exercer é o que eu chamo de capitão do navio. Um líder de fato ajusta o curso da nave que está pilotando. Deve convencer as pessoas a escolher aquele curso em vez de tantos outros trajetos potenciais para o destino escolhido, mesmo que os outros pareçam mais fáceis ou mais atraentes. O líder deve também manter as pessoas focadas no destino quando os ventos ficam mais fortes ou as águas agitadas. Precisa assegurar que a tripulação esteja preparada para a longa jornada de transformação e que há suficiente espírito de equipe que proteja a todos de um possível motim em face da dificuldade.

4 – Professor e Treinador
Vi inúmeros CIOs frustrados pelo fato de que os membros de suas diretorias ou times executivos “não entendiam o ponto”. Eles reclamavam de como suas equipes entendiam de tecnologia e de como implementá-la e acabavam se sentindo superiores porque usavam termos que outras pessoas não conseguiam entender. Também se frustravam quando seus times erravam caindo em armadilhas que pareciam óbvias para uma pessoa mais experiente.

Um dos papéis críticos para um líder eficiente é ser um professor paciente e aberto. Isso exige alguns critérios.

1. Você precisa estar disposto e ser capaz de explicar ideias e soluções técnicas complexas em termos leigos.

2. Você precisa estar disposto a educar pessoas-chave não apenas naquilo que você está tentando cumprir mas também porque isso importa a elas e porque seu modo de executar é o melhor.

3. Você precisa conseguir que pessoas eficientes e bem-sucedidas sintam-se mais confortáveis, vivendo num mundo que parece estranho para elas e no qual elas até eventualmente sintam-se inadequadas ou estúpidas num primeiro momento.

4. Você precisa ser o mentor de seus colaboradores e ajudá-los a crescer e a desenvolver os atributos que eles precisam para evoluir como líderes eficientes por seus próprios méritos.

Quando uma pessoa aprende a dirigir um automóvel, parece que tem de se lembrar de dúzias de coisas ao mesmo tempo: checar o retrovisor, pisar no acelerador, ligar o pisca-alerta na curva, checar a velocidade etc. Um motorista experiente faz isso tudo sem pensar. Na verdade, muitos de nós dirigimos para o trabalho e nem conseguimos lembrar como chegamos de um ponto a outro, como se estivéssemos em transe! Mas se olhar um pai tentando ensinar o filho a dirigir, vai ver rapidamente o monte de coisas que tomamos como óbvias e que fazemos sem pensar mas que para uma pessoa leiga ainda precisam ser ensinadas e explicadas.

Se você é um fã dos esportes, já deve ter percebido que muitos dos grandes jogadores do seu esporte favorito falham quando tentam ser treinadores. Para um atleta muito talentoso, é difícil entender por que um jovem jogador que ele está tentando treinar não consegue fazer as coisas que ele fazia com tanta facilidade. Frequentemente, os melhores treinadores são aqueles que foram jogadores médios. Eles sabem o que é ter de aprender e lutar para aprimorar a qualidade. Eles têm mais paciência e um grande nível de empatia e abertura para ensinar e explicar princípios básicos para seus jogadores.

Parte de ser um bom treinador é saber quando ensinar, quando corrigir e quando deixar as pessoas caírem e levantarem por si mesmas para bater a poeira e dar a volta. Uma das coisas mais difíceis de fazer como treinador ou pai é olhar quando alguém que você ama leva um tombo e rala os joelhos. Aparece um desejo incontrolável de dizer “não faça isso! Eu fiz e não deu certo para mim. É um erro e vai lhe custar muito!”. Mas parte de ensinar as pessoas é deixá-las descobrir suas próprias verdades e aprender suas próprias lições. Sentir a emoção Líder é o mentor dos colaboradores. Precisa ajudá-los a crescer e a desenvolver atributos para evoluir por seus próprios méritos de uma falha pode ser uma poderosa ferramenta de aprendizado.

Há a história de um jovem que estava olhando uma taturana tentar sair do seu casulo para virar borboleta. Ele olhava enquanto a criatura tentava quebrar a crisálida e sair. Até que não aguentando mais ele mesmo cortou o casulo para que a criatura pudesse sair. Ao sair, em vez de voar, a borboleta caiu no chão, inerte, incapaz por não ter tido tempo de fortalecer as asas que teriam se desenvolvido melhor se ela tivesse saído do casulo por seu próprio esforço. Parte de ser um técnico e um professor é saber quando deixar seu time cometer erros, consertá-los e fortalecer suas asas para que possam voar por conta própria.

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5 – Líder de Torcida
O papel de líder de torcida é frequentemente esquecido pelos líderes. Muitos de nós crescemos num mundo difícil, no qual era esperado que fossemos fortes, motivados e adultos. Talvez não tenhamos recebido cumprimentos das pessoas que nos chefiavam ou que estavam em posição de autoridade.

As pessoas geralmente são educadas de uma forma que valoriza a independência e a individualidade. Tudo isso está bem e é bom. Mas muitos de nós lembramos de uma experiência na infância quando um professor ou um treinador nos disse uma palavra gentil ou elogiosa reconhecendo uma coisa boa. O que isso nos fez sentir? Você consegue lembrar como foi quando seus pais ou professores vendo que você estava mal disseram para aguentar firme que você seria capaz de conseguir executar aquela tarefa?

Ser um líder de torcida para seu time é simplesmente reconhecer seus esforços, dar a eles um tapinha amigo no ombro e gastar um pouco de tempo e esforço ao encontrá-los fazendo alguma coisa correta. Todos nós queremos nos sentir apreciados e valorizados. Uma palavra de apoio ou de ânimo num momento difícil pode significar mais para uma pessoa do que você pode imaginar.

6 – Estrategista
Parte de ser um líder de negócios eficiente envolve ajudar a desenvolver e a definir a direção estratégica da sua companhia. Isso inclui não apenas entender a missão da empresa e a direção, como também suas forças e fraquezas, mas ainda compreender o cenário competitivo em que estão jogando de forma a entender como posicionar sua empresa para garantir o melhor resultado e sucesso. Hoje, mais do que nunca, tecnologia e informação são absolutamente componentes críticos para a estratégia de uma organização em qualquer indústria. Seja para alavancar o conhecimento sobre o consumidor de forma a posicionar mais eficientemente seus produtos ou serviços ou para usar a mídia social, visando divulgar e fazer o marketing dos seus esforços, a tecnologia está no centro de como vivemos e fazemos negócios.

Nesse sentido, não só o CIO precisa ter “um assento na mesa principal”, como também precisa ajudar a direcionar a estratégia de competir no mercado do século 21 quando chegar lá. TI não é mais uma função de bastidor e um custo para os negócios. Se utilizada de forma eficiente, pode ser um diferencial competitivo que separa a liderança do mercado da falência!

7 – Inovador
Mais do que nunca, a função de TI é colocada como motor da inovação na empresa. Seja alavancando o marketing e a comunicação, seja usando inteligência de negócios (BI) para ajudar no uso estratégico dos bens ou mesmo garantindo processos e ferramentas para que os times trabalhem de forma colaborativa em qualquer lugar e a qualquer hora.

Inovação é uma expectativa. Não é suficiente que a TI instrumentalize a inovação. Parte do nosso papel de líderes é levar à inovação e recomendar usos criativos da tecnologia para ajudar uma empresa a se diferenciar de um mercado cada vez mais cheio de competidores.

8 – Gerente da Loja
Muitos executivos de TI se arrepiam ao ver a tecnologia ser considerada um bem como a energia elétrica. Mas vamos nos lembrar que em uma hierarquia de valores, o único jeito de chegar ao topo é ter os degraus inferiores da escada bem sólidos. Ignore o lado utilitário de TI por sua conta e risco! Vamos ver quantas conversas estratégicas seu time executivo vai ter com você se o email estiver pifando constantemente. Ninguém o levará a sério como arquiteto de estratégia de negócios, se você não conseguir manter as luzes da sua própria casa acesas. Não estou sugerindo que você se foque nos aspectos táticos de serviços de commodities. Estou simplesmente declarando que para conseguir ganhar credibilidade como agregador de valor estratégico, precisa fazer o trem chegar na hora todos os dias.

Fazer a área de TI entregar os serviços básicos de forma consistente, no tempo e dentro do budget não é “sexy”. Mas é um trabalho crítico, imperativo e vital de todo CIO.

Autor: Larry Bonfante é CIO da United States Tennis Association | Fonte: CIO.com.br

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