Na hora da crise, todo mundo defende seu espaço no escritório. Confira o que fazer quando a rivalidade desenfreada ameaça a sua carreira
Em períodos de instabilidade econômica e corte de funcionários, a competição aumenta no ambiente de trabalho. Para manter o emprego, as pessoas tentam provar que são essenciais e insubstituíveis. Atitudes individualistas, como exibicionismo e egoísmo, despontam. E aí, são grandes as chances de o clima de cada um por si virar a regra no escritório. Esse processo é semelhante ao que ocorre com os países durante a crise: na economia mundial, o protecionismo voltou a ser discutido. As nações querem proteger seus trabalhadores e suas indústrias em face aos estrangeiros. “É a mesma coisa no trabalho”, diz o consultor Gustavo Boog, especialista em clima organizacional. “As pessoas pensam em preservar o próprio pedaço, mesmo que os outros em volta não estejam seguros.” Uma pesquisa conduzida pela Accenture nos últimos meses de 2008 mostra que ao menos 30% dos profissionais entrevistados já estavam tomando medidas com o objetivo de se segurar no cargo, principalmente esticando o expediente.
O problema é quando a disputa se torna desleal. No comércio mundial, protecionismo em excesso significa que ninguém compra de ninguém, ou seja, todo mundo perde. No escritório não é muito diferente: ninguém colabora, dando margem para mal-entendidos, fofocas e atritos. “É normal que existam divergências dentro de uma empresa, mas na crise, quando as opções para fugir do que está ruim são menores, o caldeirão de discordâncias pega fogo”, diz Adriana Fellipelli, sócia-diretora da consultoria Fellipelli, que coordena no Brasil uma pesquisa sobre conflito no trabalho feita com 5 000 executivos de nove países. Segundo o último estudo, divulgado em setembro do ano passado, os brasileiros vêm perdendo mais de 90 horas de trabalho por ano em situações mal resolvidas com os colegas. A face mais podre dos confl itos entre colegas é a sabotagem da carreira alheia. Se você acha que é a bola da vez, saiba como se portar nas situações de competição que mais aparecem em períodos de insegurança como agora.
Um workaholic faz com que eu trabalhe até tarde também
O viciado em trabalho, principalmente quando é chefe, tende a achar que todos têm de ser como ele: fazer expediente além do horário, levar trabalho pra casa, respirar relatórios.
Como agir: estabeleça qual é o seu limite. “Quando você se respeita, é mais fácil se fazer respeitar pelos outros”, diz Luiz David Carlette, do Idort. Converse com o chefe para sentir como a empresa vê esse excesso de trabalho. “Se a sobrecarga foi distribuída igualmente entre a equipe, todos devem se empenhar para que esta seja uma situação temporária”, diz Luiz David.
Meu chefe estimula exageradamente a competição na equipe
O líder pressionado faz uso da tensão para aumentar a produtividade de seus subordinados. Ele nem percebe, mas usa a crise como desculpa.
Como agir: mantenha a cabeça no lugar, fazendo o seu melhor. Se identificar que o foco da pressão é o gestor, procure fazer alianças com colegas, mostrando que o compor tamento do chefe prejudica a todos. Cuidado para não se expor sozinho. Quando a crise passar, tente uma transferência ou busque outro emprego, mas livre-se desse chefe.
Uma pessoa assume como dela o trabalho que é da equipe
Na hora da crise, pode surgir um espertalhão que tenta “crescer” em cima do suor dos outros. Normalmente, trata-se de uma pessoa insegura, ameaçada a tal ponto pela situação que nem percebe que, com o tempo, será desmascarada pelos companheiros.
Como agir: “Nas apresentações, faça perguntas específicas e se aprofunde nas partes do projeto que ela não domina. Cite a fonte ou outros lugares onde aqueles dados já foram usados, deixando implícito para a direção que, na verdade, o projeto pertence ao time todo”, diz Adriana Fellipelli.
Um colega aponta culpados para todos os fracassos
Outro caso de insegurança. É uma forma de esconder a incapacidade, colocando a culpa em você ou nos demais colegas, causando um clima de intolerância ao erro.
Como agir: mostre ao queixoso que ninguém suporta esse comportamento e que ele será boicotado se insistir. “O momento é de cooperar, e não de empurrar a culpa pra frente”, diz Luiz David Carlette, do Idort.
Mudei de área e sou rejeitado pelos novos pares
A crise é um momento de transferências e reestruturações. Há muito movimento interno nas empresas. Quem entra numa nova vaga em meio à crise pode sofrer retaliações dos colegas.
Como agir: você vai precisar conquistar a confiança das pessoas. É um trabalho diário e cansativo, mas precisa ser feito. “Se você chegou a um lugar afetado por demissões, venda a ideia de que a gestão antiga não serve mais. A crise impulsiona esse movimento de rever comportamentos”, diz Adriana Fellipelli.
Sou vítima de fofocas
Em primeiro lugar, não “compre” nenhum boato sem antes verificar a sua veracidade. Depois, leve em conta que todo mundo tem seu dia de “bola da vez” — pode ser que tenham falado de você em uma única ocasião. Um desgaste ao primeiro sinal de boato pode ser a munição que os fofoqueiros precisam para aumentar maldosamente a carga de zunzunzum a seu respeito.
Como agir: se você tem certeza de que alguém fala mal de você, a resposta tem de ser do tamanho do prejuízo. “Em alguns casos, basta uma conversa franca e reservada. Tome atitudes mais extremas, como se pronunciar publicamente, apenas se a sua imagem estiver sendo queimada com quem realmente importa na empresa, ou se o boato for grave demais para se manter quieto”, sugere o consultor Gustavo Boog.
Um bajulador faz a cabeça do chefe para se beneficiar
Durante a crise, o número de bajuladores aumenta. “Os improdutivos querem aparecer a qualquer custo para salvar a pele”, diz Eduardo de Maria, consultor da Alive Eco Hut, empresa que promove eventos para integração de equipes. A melhor coisa é não se envolver. O problema é do chefe, não seu.
Como agir: há dois tipos de aduladores. Um é inofensivo, incompetente e carente por segurança. Basta dar-lhe um pouco mais de atenção. O outro exige cautela, pois tem talento e usa a bajulação para ganhar algo em troca. Mas não adianta falar mal do puxa-saco para o chefe — vai ver ele gosta de ser paparicado e isso pode soar como inveja. A dica é evitar contato com a figura. “Nunca critique os colegas ou a empresa. O bajulador pode usar isso contra você”, diz Eduardo de Maria.
Fonte: Você S/A
Opa primeiro é?
Cara muito boa esta matéria, parabéns!
Essas dicas são muito boas, tem quem pensa que não, mas elas também podem ser aplicadas no setor público em algumas situações.
Abraço Rafael.