O gestor de TI tradicional está com os dias contados

Especialistas alertam que os CIOs precisam aumentar a produtividade do seu departamento, garantam o uso mais eficiente da tecnologia e adotem soluções que permitam rápidas mudanças

Diversas situações afetaram as áreas de TI na última década. Entre elas, podemos citar o bug do milênio, os atentados de 11 de setembro, a explosão da mobilidade e a demanda por banda larga. Mais recentemente, a crise financeira internacional deu sua dose de contribuição para as mudanças no cenário de tecnologia da informação e deve ser um fator determinante para o futuro do setor e, principalmente, para a mudança no papel do CIO.

Os líderes de TI estão hoje em apuros, na visão do sócio responsável pela área de estratégia corporativa da consultoria Altimeter Group, Ray Wang. “A era do CIO ditador terminou em 2009”, afirma o especialista. Ele considera ainda que a área de tecnologia só não vai deixar de existir por conta da importância que os sistemas têm hoje para as organizações. Contudo, os gestores do departamento de tecnologia terão de repensar sua função ou estarão fora do mercado.

O cenário começou a ficar crítico no início da crise internacional. Na época, as empresas fizeram um exame minucioso de todas as áreas e, com isso, boa parte delas descobriu problemas graves nos departamentos de TI, provocados por conta de contratos mal elaborados – principalmente para licenciamento de software – e estratégias equivocadas para compra e integração das soluções. Situação que levou muitos CEOs e outros executivos do board a questionarem a eficiência dos CIOs.

O primeiro passo para o líder de TI reverter essa situação é entender o atual ambiente de negócios . O diretor global da consultoria McKinsey, Ian Davis, explica que a crise não estimulou um novo ciclo econômico, “mas levou a uma reestruturação da ordem econômica”. Em resumo, isso vai exigir que as empresas repensem suas estratégias e precisarão ter mais flexibilidade para se adaptar rapidamente às oportunidades. O que vai fazer com que as metas e os resultados sejam revistos quase diariamente.

Do lado do CIO, os profissionais terão de atuar em três frentes: fazer com que a área de TI seja dramaticamente mais produtiva; garantir um uso mais eficiente da tecnologia para atender aos objetivos corporativos; e adotar soluções adequadas ao novo ambiente econômico e no qual há uma necessidade de mudanças constantes. De acordo com o especialista em TI da consultoria, Michael Chui, nada disso representa uma novidade para esse profissional. “A diferença é que no passado o CIO poderia ser bem-sucedido em uma ou talvez duas dessas atividades”, ressalta o especialista. “Agora, nessa nova realidade, ele realmente tem de trabalhar em todas as três categorias, o que torna o desafio muito maior”, acrescenta.

Outra questão que vai tirar o sono dos CIOs daqui para frente é lidar com o legado de TI. A maioria das empresas tem hoje uma gama de sistemas e equipamentos de TI antigos, que tornam a gestão bastante complexa. “E os CIOs perderam o controle sobre como a tecnologia é utilizada na empresa”, afirma Wang, do Altimeter Group. Ainda segundo ele, isso impacta em custos muito altos e problemas com processos.

Wang nota que o novo líder de TI terá de mudar a maneira de pensar. Assim, em vez de pensarem em manter infraestruturas e sistemas ‘confiáveis, mas caros’ terão de migrar para ‘soluções flexíveis e com custos adequados’.

Também como parte da transformação, os executivos precisarão desenvolver a capacidade de comunicação. O CIO aposentado Abbie Lundberg, que hoje oferece consultoria de imagem para gestores de TI, afirma que os departamentos de tecnologia até realizam um bom trabalho, mas pecam na hora de vendê-lo para o resto da companhia. “Eu vejo várias equipes fazendo as coisas certas, só que elas não se preocupam em divulgá-las”, analisa, ao afirmar que isso não leva as demais áreas a se engajarem nos projetos e atrapalha o ciclo de implementação das iniciativas.

Conhecimentos tecnológicos

Chui, da McKinsey, não descarta a importância do CIO do futuro entender bem de tecnologia para implementar as mudanças que serão demandadas dele. Na prática, isso vai exigir que os executivos experimente msoluções não tradicionais – como as redes sociais e o conceito de cloud computing – para atender as demandas dos usuários internos da TI e os clientes finais.

Acima de tudo, o gestor de TI não pode ter medo de experimentar e deve estimular sua equipe a tentar coisas novas. “Para testar, no entanto, devemos assumir alguns riscos”, diz o CIO do McDonald´s nos Estados Unidos, David Grooms, que acrescenta: “E isso precisa ser algo relativamente rápido. Pois não dá para perder três anos desenvolvendo uma aplicação. As coisas precisam ser lançadas para depois receberem ajustes.”

Publicado na CIO por Thomas Wailgum